Manhã de sábado, um bom dia para se fazer exercícios que nunca faço. E de repente, no pátio, um botijão de gás e três garrafões d’água de 20 litros cada esperam para entrar na casa. No caminho para pegar o terceiro, depois de ter carregado dois garrafões de maneira fisicamente errada, decidi usar o movimento correto. Para não forçar mais ainda o “S” que chamo de coluna e lembrando de orientações médicas desde a infância, flexionei as pernas – semelhante aos levantadores de peso nas olimpíadas - e coloquei o último garrafão no ombro direito.
Por fim, levantei de um só movimento – rápido como os atletas das olimpíadas fazem. Dizem que o cóccix é um vestígio do que seria a cauda humana. Quando fiquei de pé, de súbito, tentaram extinguir o macaco que existia em mim, foi como se alguém tentasse arrancar o meu cóccix com uma faca. Resumindo, me fodi – exatamente como alguns caras das olimpíadas também.
Além da dor ser algo indescritível e eu andar igual a ramsés III depois de pelo menos uns 250 anos, eu não conseguia parar de rir. A dor me fazia rir e pensar besteiras do tipo “Putz, hahha, por que eu estou rindo..ahhaha...será que atingiu algum destes sistemas de nervoso...hahaha...tá doendo muito...hahaha”.
Ainda tentei esperar um pouco para ver se não era algo temporário, mas não deu, levaram-me ao hospital. Arrastando-me como podia, com todos os pelos do corpo arrepiados como se a mais cruel das paixões platônicas me conduzisse e rindo por demais...eu era sem dúvida o paciente mais estranho no recinto.
Na traumatologia tive uma boa e uma má notícia. A boa é que não era nenhuma lesão na coluna e sim num músculo – uma distensão ou estiramento, sei lá. O médico olhou para mim como se dissesse:“Não teve nenhuma relação com sistema nervoso, meu rapaz, você está rindo por que é um débil mental mesmo!”. A ruim é que não era algo tão simples, “Três injetáveis só para começar. Vais ficar no soro de castigo!” – completou o médico.
Injetável, agulha, seringa, hipodermia...essas palavras têm um efeito destrutivo na minha cabeça. Eu fui mais medroso na infância, mas a idéia de alguma coisa penetrando no meu corpo sempre é desagradável. A verdade é que eu não esperava tomar injeções por causa de uma garrafa d’água.
Eu sei que você está tremendo ao ver os pixels desta seringuinha de nada.
Já deitado com muito esforço e risadas, o que já me tornou o centro das atenções numa sala com pacientes sorumbáticos, a enfermeira finalmente chegou com sua bandejinha brilhante.
- Sr. Paulo, em qual braço o senhor prefere tomar a medicação?
- Olha...eu prefiro tomar em nenhum braço! Mas como eu não tenho escolha...vai no esquerdo mesmo.
Aí ela já começou a rir. Ficou um clima demasiado descontraído, já que eu também estava rindo. Estendi meu braço esquerdo para a seringa preparada em sua mão.
- Mas esta primeira é no bumbum! – ela disse sorridente.
Dar uma volta de 180º graus sobre a cama para ficar de bruços revelou dores e risos nunca dante imaginados da minha pessoa. Eu tremia mais que as mãos de Mohamed Dali depois do Parkinson enquanto virava a cabeça para ver a intenção da agulha...”Ai, ai...hahaha, espera aí que tá doendo..haahhah” – tudo isso diante dos olhos dos outros pacientes, com cara de quem pensa: “Nossa, tamanho homem, mas que gordo cabeludo mais frouxo!”.
Sem contar o fato de que meu pai, o acompanhante, mostrando uma grande falta de noção: “- O que foi rapaz, está com vergonha de mostrar tua bunda cabeluda?” – disse isto abaixando minha cueca mais que o necessário.
Bem, depois desta seqüência de constrangimentos gratuitos, enfim, agora sim o braço. Não sei se eu distraí a enfermeira por demais, ou aquele não era o meu dia mesmo...só sei que a minha veia da mão estourou antes de ela enfiar toda a agulha.
E de repente a dor nas costas deu um tempo para eu olhar o inchaço da mão esquerda enquanto um jato de sangue espirrava de dentro para fora, de súbito, como eu levantando o garrafão d’água. Agora sim, isso doeu para caraleo!! E todos os risos cessaram, inclusive os meus. A enfermeira ficou nervosa, eu acho, e pediu para um rapaz puncionar outra veia.
Não faço a mínima idéia do que seja isso, coloquei apenas para assustar vocês.
- Você está vendo a minha veia? Porque eu não vejo nada! – disse eu, com a mão dolorida.
- Mas veia a gente não vê, a gente sente – disse ele apertando aquela borracha de estilingue que esqueci o nome agora.
-Ah bom, então eu prefiro que o “Demolidor” me aplique a injeção.
É claro que esta última fala eu apenas pensei. Vai que o cara é fã da Marvel, acha engraçado e ...putz! Mas foi tudo bem. Ele acertou a veia, enquanto em pensava em me especializar em “Terapia do Riso Inversa” - sou o paciente com a missão de alegrar a enfermeira ou o médico.
Continuei em casa tomando comprimidos. Depois de dois dias, minha condição de múmia melhorou para pingüim com cãibra. Hoje já estou bem. Estou com problemas apenas em realizar movimentos complexos como dançar twist e fazer sexo. Felizmente, práticas que não fazem parte do meu cotidiano.
Uma canção, "No Quarter" (Led Zeppelin).
5 comentários:
Há umas semanas tive uma aventura parecida...
Parei no hospital em função de uma terrível crise de gastrite misturada com um infecção intestinal sem origem (até hoje) definida.
Apesar da dor cruel, não conseguia ficar séria, vc me conhece.
A parte boa da história é que a enfermeira que me atendeu era minha irmã... eu recomendo!
Da próxima vez vá no Porto Dias ou na Unimed Doca. Ela acerta as veias sem problema.
Sim, eu sei que a tua irmã é a enfermeira do Animaniacs, mas ela está de férias. :)
AHAHAHAHAHHAAHHAAHAHHAHHAHAHAHAHAHAHA
AHAHAHAHHAHAHAHAHAHAAHHHHAHAHAHHAAHHA
AHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
(perceba a risada manualmente justificada, para não desalinhar a sua caixa de comentários)
Imagino a tua dor e a cara das outras pessoas te vendo rir nesse momento...
Eu também acho graça como primeira reação à dor e sofro muito com isso porque quem está malinando comigo geralmente acha que eu estou gostando e só percebe que tá doendo mesmo quando eu começo a chorar.
Mas até eu parar de rir, já doeu muuuito!
Rapaz, só eu que não rio com a dor! Acho que tenho que ir ao médico!
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