segunda-feira, 6 de março de 2006

“O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee (2005)

### por Sepúlveda Gerardo ### Sepúlveda Gerardo é resenhador universal e multimedia sobre assuntos aleatórios, sem papas na língua, seja lá o que isso for.


O fato é que é um filme bom. Sim, daqueles que tu sais do cinema e diz. "Porra, esse filme é bom!". Mas, nem tanto. Não um bom que te enche o peito de alegria ou de tristeza, como deixa eu ver....hum...ah, sim... "Em busca da Terra do Nunca" ou o "Jardineiro Fiel" ou "A felicidade não se compra" ou mesmo um "Senhor dos Anéis 5", quando a gente sai da sala escura querendo derrotar o mal do mundo só com a espada e a coragem, feito o Aragorn. Mas não dá pra comparar com nada não, com nenhum desses. Talvez por isso que o Ang Lee tenha tido o ovo mais babado da recente história do cinema rolhiudiano. Fez um filme bonito, delicado, sobre o amor. Sobre gays, mas sem frescura - e vou adiantando: perdoem-me desde já por todas as piadas de duplo sentido que este texto pode provocar.

Foi engraçado ir ao cinema assistir ao filme. Fiquei olhando as pessoas saindo da penúltima sessão do Nazaré 1*. "Quantos devem ser gays?". rerererere. Contando os conhecidos, eu vi poucos. Quer dizer, vi poucos daqueles que são ostensivamente gays. Os escondidos, escondidos ficaram. Aliás, teve conhecido que meio que se esquivou quando me viu. Que falta de sinceridade (dito com o sotaque do Truman Capote, do filme homônimo, também concorrente do Oscar-alho. Porra, lá vem a piada pronta maldita do inferno)!

Mas, muita calma nessa hora, não cessarão as piadinhas sem graça com nossos "colhegas" homossexuais. Belém é uma cidade em que a hipocrisia se manifesta nas mais variadas formas. Um exemplo: quando o Ennis Del Mar (Heath Ledger) e o Jack Twist (Jake Gyllenhaal), os caubóis gays, como estão chamando os personagens da trama, começaram a se beijar, dar uns amassos e um comer o outro... rapaz, foi uma sessão de riso nervoso, como eu não vi nem na sessão do Wolf Creek, que é um filme de horror que te provoca esses espasmos de gracejo, por não te dar outra alternativa, a não ser o choro de pânico. Imagina esse povo no Cine Ópera**, bem ao lado, onde rola o Brokeback Mountain ao vivo, todo dia?

Era um qui-qui-qui pra lá, um cá-cá-cá pra acolá, um ihhhhhhh, um "puta que pariu", uma ironia intermitente. Tudo sem noção, porque o filme não é engraçado. Como definiu a minha companhia, enquanto esperávamos a condução na volta pra casa: "uma caboquice!". E olha que ela nasceu no interior do Pará. Sabe bem o que é isso. O que é ser acusado de cabocão ou caboquético. Mas, o pessoal de Belém, é foda. Eles não se emendam. Pra não perder o costume....vão se foder!

Não é um filme engraçado mesmo. É um filme duro (ui! De novo, foi mal). Um filme que eu entendo como um filme "incubado". Quem não sabe o que é incubado? São os gays que não se assumem, que não saíram do armário, como se usa hoje em dia. Gays como o Ennis Del Mar e o Jack Twist. Um deles até diz. "Eu sei que não sou gay". Outro trecho que remete a isso (hum...pensou que eu ia plantar mais uma galhofada sem graça, heim!) é a parte em que Ennis cita o assassinato por espancamento de um homossexual na época em que ele ainda era um cauboizinho. "Meu pai, fez questão que nós víssemos àquilo”, comenta ele, ao dar um fora no parceiro que já queria morar junto, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, para ver o sol nascer e tal e coisa.


“Esta é a última vez que vou te mostrar como é que se faz, viu?”

Digo que é um filme incubado, também por tudo ser comedido. Até os movimentos dos atores são limitados. Os choros são sempre abafados. As falas são curtas. O espectador sempre fica esperando uma revelação. "Ninguém vai descobrir nada nesse caraleo", eu confesso que pensei algumas vezes. A única coisa grandiosa, expansiva, é a montanha Brokeback, que guarda o segredo do casal apaixonado. Até a personagem com a franga mais solta, que é o Jack, não mostra muita coisa. O Jack soltando uns gritos mais efusivos é quase um constrangimento. Estava vendo a hora de alguém aparecer no filme e dizer: "pára de frescura, porra!".

Eu aplaudo os dois caras que encarnaram esse amor. Principalmente, o Heath Ledger. Não lembro de ter visto este ator em outros filmes, mas o cara é bão mesmo. As moças que fazem as esposas também dão um show (que expressão mais.... deixa pra lá). Principalmente a que faz a Alma ( Michelle Williams), esposa do Ennis. Quando ela vê os caras se beijando depois de quatro anos sem se verem, ela só deixa o olhar de ódio de lado, quando consegue esculhambar seu "homem", isso uns 15 anos depois do episódio pederastístico.

Mas, a Laureen (Anne Hathaway), mulher do Jack, também não deixa por menos. Todo mundo pensa que ela é só mais uma figura no filme. Mais uma americana burrinha, que poderia estar fazendo o American Pie 7. Mera impressão. A mulher simplesmente capta a essência do filme na conversa que tem pelo telefone com Ennis sobre a morte do amante dele e do marido dela, não por coincidência, a mesma pessoa. Bom, já falei demais. Já até disse que um dos caubóis morre.

Só mais uma coisa: é capaz de rapazes alegres não gostarem e dos heteros detestarem. Quem vai pensando em encontrar duas mariposas loucas que cantam o funk "senta no cavalo só pra levantar o rabo" vai se dar muito mal. Os caras são machos pra caraleo!


"Para não duvidarem da minha masculinidade, meu próximo filme será sobre uma cantora lésbica."

*Conhecido cinema de Belém.
** Cinema de filmes eróticos, em Belém.

Uma canção, "O Mundo" (Ney Matogrosso + Pedro Luís e a Parede).

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, ainda não vi, mas pelas tuas impressões me parece ter sido meio parecido com “Alexandre, o grande...vocês já sabem o que”. Se Oliver Stone coloca a Rosário Dawson (esposa de Alê no filme) apenas para mostrar seu par de seios, e que seios!!...por que não teve coragem de mostrar Jared Leto apatolando Colin Farrell? Tsc, tsc, tsc...eu acho que frescos mesmo são estes produtores e diretores de Hollywood.

Anónimo disse...

Acho que o Ang Lee tá com vontade de dar uma de Amodovar... (sem trocadilhos ^____^)

Boa analise, rapaz!

Anónimo disse...

Putz, vc descrevendo a platéia dos cinemas de Belém é igualzinho. hahahahaha. Obrigada por existir, cara, fazia um tempinho que eu nao entrava nesse blog...Ainda to vermelha de tanto rir. Casa comigo, to precisando de um marido assim...rssss.

Adriano Mello Costa disse...

Ainda não vi o filme por mais incrivel que pareça, mas gostei da coluna... :))