sexta-feira, 17 de março de 2006

"Transporter 2", Louis Leterrier (2005)
Não tenho preconceito com nenhum tipo de filme, assisto desde o drama que faz a sua tia chorar soluçante ao final até a comédia romântica americana em que o cara faz uma sacanagem com a mocinha, acaba se apaixonando por ela, mas se redime no final demonstrando o seu amor publicamente. Só que num determinado momento eu parei de ver filmes com títulos do tipo “Ameaça Explosiva”, “Fuminância Impactante” ou coisas parecidas que notavelmente indiquem filmes de ação na cabeça de quem define o título em terras brasileiras. Minha atitude xenófoba estava mais diretamente ligada ao título do que pelo conteúdo mesmo. É por isso que eu me recusei a chamar Transporter de Carga Explosiva. Antes de discorrer sobre a sequência do filme, devo dizer que Transporter representa o meu retorno à ação. Não a qualquer ação que pode conter nos filmes, mas sim ao esteriotipado filme de ação clássico com vilões escrotos e um herói idem que paga que é do bem. Enquanto Cobra (Stallone) e T-101 (Schwarzenegger) são fodões e destemidos, Frank Martin (Jason Statham) é isento de adjetivos...ele é simplesmente O CARA. Enquanto os outros precisam de armas, equipamentos, coletes e se arrebentam por vezes, Frank Martin não precisa de nada: usa um terno preto caro, dirige um carro preto caro, quebra tudo que encontra pela frente no menor tempo possível e no final está mais impecável que o James Bond no início dos filmes. Porra, como se isso não bastasse...o rapaz é nada mais nada menos que “um gato!” – perceba que cada centímetro do meu machismo incrustrado não foram suficientes para evitar a acertiva.

Em Transporter 2, Luc Besson (produtor/roteirista) se reuniu com a equipe e disse:

- Bem, a cada 5 minutos e 23 segundos teremos une mentira no film. Mas non pode ser une mentira qualquer. Tem que ser une daquelas que ninguém pensou jamé em outro filme antes e que arranque les maiores interjeições da língua native de quem estiver assistindo! Compreendido?
- Oui, Luc! Mostre-me o roteiro – diz o diretor.
- Ainda não o escrevi, apenas defini les mentiras.
- Oui...

É isso. Senta, observa um canguru manco fugindo num pogobol e se desviando de balas disparadas por uma coruja num ultraleve, que lá vem a história... Achou um exagero? Hum, você ainda não viu nada.


Para quem não sabe, Frank Martin é um cara metódico que trabalha em seu carrão transportando encomendas de qualquer natureza mediante altos pagamentos. Para ele não importa se está carregando 50 quilos de heroína ou uma dúzia de fetos natimortos para pesquisas de células tronco, só importa entregar a mercadoria (que ele desconhece) nos locais e horários combinados. No início da segunda parte, ele é apresentado ao público de uma forma que não fará diferença se você viu o primeiro filme ou não. Em poucos minutos já se percebe que o cara é muito mais que um simples motorista comum. O fato dele ter feito parte das forças especiais (mencionado nos dois filmes), acredite, não será o bastante para tentar explicar porque ele quebra no pau todos os atores que aparecem na tela nos primeiros segundos, dirige como se tivesse um computador de bordo na cabeça e que qualquer ser humano com mais de um cromossomo X no corpo tenha vontade de dar para ele, além de outras coisas que não direi apenas para lhe dar o prazer de se espocar de rir, espraguejar de raiva, corar de indignação...e todas as variedades de reações que a história possa lhe causar.



Não se preocupe, filho, você estará mais seguro com Frank Martin desarmado em dia de operação do Exército na favela do que ao lado de Clark Kent na redação do Planeta Diário

Ele está temporariamente substituindo alguém que toma conta do filho de um figurão. Vai buscar e deixar o moleque na escola, faz brincadeiras com ele, evita as investidas da bela mãe do garoto, essas coisas básicas. Acontece que querem seqüestrá-lo e isto vai de encontro aos princípios de Frank, ou melhor, suas regras. Ele prometeu ao menino não deixar ninguém machucá-lo, então...meus pêsames para quem quebrar esta regra. Bem, é isto. O resto são as mentiras que os roteiristas imaginaram.

Uma outra coisa, que pode ser interpretado como uma observação machista da minha parte – mas eu já disse que o cara é presença, então tudo bem -, é que o filme tem cenas de ação, porrada, herói solitário, carros importados e fudidaços, mas no quesito mulherio...é uma negação! No primeiro filme ainda tinha a Shu Qi, que realmente é bela, mas... que porra é aquela? – refiro-me a Lola(Kate Nauta). Lola é uma vilã que deveria ser a mulher mais atraente e fatal do filme, e no entanto é o maior exemplo da atualidade de atriz horripilante, esmilinguida e baranga (não, não estou pegando pesado) querendo dar uma de bonitona! Porra, acharem esta mulher bonita é sem dúvida a maior de todas as mentiras do filme!


"Ainda bem que o cachê é bom, porque...vai ser escrota assim na casa do baralho!"

Quanto às outras mentiras, não revelarei nenhuma, mas prepare-se para assistir a coisas, no mínimo, inéditas – espere só até ver como Frank se livra de uma bomba no fundo de seu carro.

Jason Statham ainda não têm uma penca de filmes no currículo, mas eu ainda não vi um único papel ou filme ruim com este cara! Esperamos que em sua carreira não apareça nenhum Efeito Colateral ou O Fim dos Dias. E no caso do “Transportador”, acho que só não é ruim por causa dele – acho que nenhum outro conseguiria fazê-lo com o mesmo carisma. Eu não sentia a vontade de ser o “herói escroto do filme” desde
Fuga de Nova Yorke (John Carpenter - 1981), que marcou para sempre a cara e a alma de Kurt Russell, por isso ele é tão ruim fazendo qualquer outro personagem que não seja Snake Plissken. É, Jason Statham/Frank Martin é o cara! Depois do filme eu quase entrei em uma de suas comunidade do orkut.

Nota – Apesar d’eu simpatizar com Transporter, o filme não dista muito de outros ruins do (suposto) mesmo gênero. Digo isso pelo quesito “vilania”: no 1º o culpado é um asiático inescrupuloso que trafica escravos de uma região miserável da ásia; no 2º é o cartel de drogas da Colômbia. No final das contas, é mais um filme como Bad Boys 2 e Efeito Colateral, que mostra Cuba uma imensa favela desolada que parece o cenário do próximo Mad Max e que a cocaína é a moeda local da Colômbia e as crianças trocam meia grama por pirulitos. Fazer o que né, o cinema é um bom negócio e os donos estão pouco se lixando pra isso, afinal, eles acham a Shakira um tesão é isso deve compensar.

O que foi? Alguém ficou surpreendido que usei meus conhecimentos adquiridos no curso de comunicação para mostrar minha visão crítica das coisas? Não...eu escrevi tudo isso apenas para dizer que a Shakira é um tesão mesmo.

Uma canção, "Banana Co." (Radiohead).

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