segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

“Cloverfield”, de Matt Reeves [E.U.A] (2008)

Não é a toa que J.J Abrams – produtor de LOST (creio que eu já não preciso dizer o que é LOST) - entende das coisas no ramo do entretenimento. Sua última brincadeira, chamada “Cloverfield”, já se pagou em bilheteria no primeiro fim de semana em cartaz. É mais um daqueles filmes com câmera subjetiva do estilo “personagem câmera-man” – a fórmula de “Bluxa de Blair”(1999), que emulou a fórmula de “Cannibal Holocaust” (1980). A diferença é que os dois filmes anteriores queriam passar a idéia de que o fato registrado realmente acontecera, causando respectivas polêmicas em suas determinadas épocas de lançamento – aliás, este é o grande trunfo do sucesso dos dois. Como ninguém mais acredita nisso, por que não criamos algo extremamente fantástico e mentiroso de uma vez para o personagem do filme gravar, não é verdade? Então...vamos colocar cinco jovens, um deles com uma câmera, enquanto um MONSTRO gigantesco destrói a cidade! Pronto, já posso pegar os meus milhões de dólares agora? No mundo competitivo de hoje, com filmes de idéias repetitivas ou recicladas saindo pelo ladrão, acho que o veredicto final para o aval da empreitada foi : “Filmes de monstros são legais, mermão!”. Senta, chame o Guioday para lhe transformar num gigante de 50 metros, que lá vem a história:


Sim, mais uma vez a cidade de Nova York é destruída por alguma ameaça. Ainda bem que estes filmes não influenciam ninguém.


O filme começa com aquela velha premissa de que o material que vamos assistir foi encontrado e tal. No caso, faz parte dos arquivos do departamento de segurança do governo americano: “as imagens foram registradas num cartão SD de uma câmera ultimo modelo da Sony Cybershot Anti-Monstro 10 megapixel...encontrada no lugar onde um dia foi o Central Park...” – e muita gente sabe que quando isso acontece não devemos torcer por nenhum dos personagens porque, historicamente nos filmes de “personagem câmera-man”, ninguém precisa sobreviver pra contar a história. Isso é uma lei, além de ser a própria razão que dá origem a este controverso gênero cinematográfico. Eu soube que pessoas estavam passando mal e vomitando durante as sessões “deve ser por conta das cenas de correria e tensão, afinal, não é todo dia que um monstro destrói a cidade de NY, se fosse Tókio, vá lá...” pensei eu. No entanto, a parte que realmente acredito causar náuseas é o início, quando o filme parece um desses reality-shows genéricos do tipo “MTV na Real”: Rob possui sexualmente Beth, uma amiga por quem é apaixonado desde a infância, poucos dias antes de partir para o Japão. Seu irmão Jason e a namorada Lily organizam uma festa de despedida para ele. Hud fica encarregado de filmar o evento e entrevistar os amigos, mas está mais interessado em Marlena, uma moça que adora tomar uns goró. Beth aparece com um cara na festa, o que deixa Rob muito emputecido e exigindo explicações. Ela vai embora tristonha e enquanto Hud e sua câmera espalha pra todo mundo que os dois "descabelaram o palhaço". Tirando Beth, que foi embora da festa, neste trecho temos os cinco jovens pra começar a trama... e a esta altura, eu já estava contando os segundos para o MONSTRO aparecer logo e tocar o terror nessa porra toda!


"GROOOAAAARRRR!!"...porque não é de hoje que monstros gigantes comandam "peso" no quesito destruição de megalópoles.


Um tremor de terra é a deixa. Depois disso, segure-se na cadeira e prepare-se para ter reações conforme os realizadores do filme pensaram – ou pelo menos, algumas, ora vamos, é um filme de monstro, se você quisesse ver Godard nem entraria no cinema. Mas não pense que será fácil, ou rápido ver o personagem principal em toda sua magnitude, porque a câmera é uma dessas de filmar churrasco no domingo, além disso, o cara tá tentando sobreviver à nuvem de poeira, paredes desabando, mísseis, pedaços da estátua da liberdade e outros obstáculos. Enquanto os cinco tentam sair da cidade no meio do caos que ela se tornou, questiona-se sobre o que é a ameaça, qual a natureza do bicho: se é alienígena, criatura pré-histórica escondida, se saiu de uma fenda marinha...enfim, você também vai pensar em alguma coisa. A minha, no outro dia, foi em torno de H.P Lovecraft e toda aquela onda sobre o “Cthulhu” – um monstro sinistro do universo sinistro do autor – sei lá, quem sabe até do ramo sobrenatural: o exército gasta quase todo o arsenal de Bush e nada do trololó tombar. Acredito que o filme perde uma grande porcentagem de intenção se assistido fora do cinema: a idéia é que você esteja lá, no meio da esculhambação, e com o som mais porrada que puder. Tem seus momentos bacanas, como a cena do metrô, mas no final de tudo...é impossível não sentir a leve brisa de picaretagem no ar. Como é de praxe nestes filmes de fitas encontradas que registraram a história as informações adquiridas durante a sessão não são satisfatórias. É aí que você engole a pílula vermelha da matrix e percebe que em matéria de descolar um troco esses caras são tão bons quanto monstros em destruir cidades. A descoberta de que “Cloverfield” é apenas a ponta do iceberg, o pontapé inicial, ou qualquer outra expressão equivalente é certa: o filme é um referencial para se desenvolver mais de trocentas histórias sobre antes, durante e depois do acontecimento: aquelas do estilo “o monstro foi criado pelos russos durante a guerra fria...” ou então “o ataque do monstro pela visão de uma equipe de filmes pornográficos” ou ainda “os sobreviventes foram para uma ilha onde acontece mais coisas estranhas”. Sem falar nas teorias, discussões sci-fi, jogos de videogames, bugigangas, comunidades do orkut [“Cloverfield, eu fui”], o que vier...


Além de visão noturna, redutor de olhos vermelhos e lanterna embutida, a câmera é à prova de monstros e armas nucleares. E é claro que está imagem não existe no filme, seu besta, senão não seria um legítimo do gênero “personagem câmera-man”.

1 comentário:

Gustavo Daher disse...

Rapaz, achei esse filme horrendamente ruim. Os personagens são muito imbecis.