quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

"Way of the Vampire", de Sarah Nean Bruce e Eduardo Durao (2005)

Bem, eu havia parado de escrever sobre filmes ou qualquer coisa material ou artística que desperte alguma opinião – Cds, livros, programas de tv, mulheres e etc. Eu realmente não gosto dos supostos formadores de opinião com seus textos criados por encomenda, dado a interesses próprios e outras falcatruas da penumbra do mundo midiático.
Mas existem certas coisas que você não consegue evitar. Eu simplesmente não posso não contar sobre “Bram Stoker’s Way of the Vampire”. Sim, o título ainda vem com o nome de Stoker, omitido em muitos lugares numa tentativa de mostrar algum respeito com a obra vampírica do rapaz, coisa que o filme não teve a mínima pretensão de fazer.

“VAMPIRO” foi o título mais que óbvio que este filme (se é que pode ser chamado assim) recebeu em terras brasileiras. Imagine uma das coisas mais horríveis que você consegue descrever. Pois é, por mais que eu me esforce em contar com toda riqueza de detalhes, as pessoas não farão idéia de quanto de escrotidão por segundo existe nesta película. Ou seja, é preciso ver para crer. Eu lhe ajudo nisso lhe mostrando logo a capa do negócio:

Peça para o rapaz da locadora colocá-lo na seção de comédia.

O fato de eu dizer que Van Helsing não dispara uma única flecha de sua tão temível besta copiada na cara dura do “Wolverine Helsing”, acaba sendo uma coisa muito normal para o resto das cenas que se desenrolam diante de nossos olhos. Senta, toma um chá de alho, que lá vem história...

Num passado vampiresco, Abraham Van Helsing é um “Vampire Slayer” super foda – como se você já não soubesse disso. Os padres da época, que lutam contra as forças do mal, querem torná-lo mais fodão ainda. Como? Oferecendo-lhe o dom da imortalidade, assim ele poderia caçar os chupa sangue pela eternidade- não me perguntem como eles fazem isso. Mas Helsing não quer, afinal seria uma tortura ver todos envelhecendo e morrendo enquanto ele banca o highlander.

Então, deparamo-nos com Abraham e seu bando de caçadores de vampiros prestes a mais um ataque contra Drácula e seus asseclas. Antes de partirem, ele tem uma idéia sensacional: deixar sua esposa sob os cuidados de Sebastien. Você precisa olhar para cara de Sebastien uma única vez na vida para perceber que o mesmo trata-se de um uma criatura das trevas, coisa que Helsing e seu bando nem desconfiavam, porque provavelmente Sebastien deveria faltar em todas as reuniões diurnas dos caçadores de vampiros.

Enquanto os caçadores enfrentam os vampiros num casarão – devo frisar que nesta parte você começa a perceber que usar dentaduras vampíricas de carnaval é o melhor de efeitos especiais convincentes que se pode esperar – Sebastien transforma em vampira a esposa de Helsing, que parece ter uns 12 anos de idade, mostrando que o famoso personagem tinha tendências pedofílicas.

Do bando de Van Helsing só sobra ele mesmo. Depois de matar Drácula – não se preocupe, o filme ainda terá mais combates absurdamente alucinantes como este – ele descobre que sua esposa agora está amaldiçoada e tem que fazer o que Van Helsing normalmente faz com os vampiros, né!

A verdade é que os roteiristas deste filme mereciam um prêmio. Além das mais afetadas e mirabolantes atuações de vampiros que já vi na minha vida de “ver atuações de vampiros”, os diálogos são uma verdadeiro teste de sanidade a parte. Quando Helsing encontra sua esposa com dois buracos no pescoço e já quase uma vampirona:

- Yvonne, não! – Helsing chorando, mas com intenções de lhe cravar uma estaca no peito.
- Não, eu não tive culpa. EU TE AMO!! – a tristeza em pessoa.
- Mas é preciso para livrar sua alma!
- AH, SE ALGUÉM TEM CULPA É VOCÊ! QUE DEIXOU SUA ESPOSA COM UM DELES! COMO ESPERA ENTRAR NO CÉU DEPOIS DE MATAR A MULHER QUE AMA! EU QUERO QUE VOCÊ NÃO TENHA PAZ PELO RESTO DE SUA VIDA!! – a cólera do demônio em pessoa.

Esta é cena mais dramática do filme, ou pelo menos, a que eles queriam que fosse.

Por causa disso, ele aceita ser imortal para matar todos os vampiros que puder encontrar pelo caminho para sempre.

No futuro (dias de hoje), Abraham está trabalhando num hospital. Além de uma assistente gata que quer dar para ele e um estagiário, que não passa de um vampiro disfarçado, o hospital não têm ninguém (isso inclui pacientes, outros profissionais ou simplesmente figurantes). Provavelmente ele foi inaugurado mas esqueceram de avisar às pessoas da cidade.

Neste presente descobrimos que os vampiros pararam de caçar humanos – sobrevivem tomando sangue de animais mortos - simplesmente por que tio Van tem detonado geral, sem piedade, estraçalhando qualquer um com caninos mais avantajados que o normal.

Mas aí, o estagiário do hospital saqueia o banco de sangue. Arianna, uma vampira dessas bonitonas (como as vampiras devem ser) rouba o sangue do mané e resolve levá-lo para o mais novo príncipe das trevas que ficou no lugar do Drácula: Sebastien.

Os caras estão há séculos sem atacar humanos, tudo por medo do Van Helsing. Mas numa conversa de 2 minutos, a vampira bonitona convence o chefe vampiro de que eles devem voltar à atividade, porque eles são a raça superior...um papo alá Magneto com os mutantes do X-Men.

Depois de provar do sangue ensacado e convencido de que os vampiros são seres safos, ele resolve caçar novamente. É claro que isso só vai sobrar para as classes menos favorecidas da sociedade. Ele resolve escolher como vítima uma garota de programa, que está tranquilamente esperando o próximo cliente, numa esquina deserta, é claro. Segue o diálogo:

- Oi, garotão. São 200 dólares.
- Porra, 200 paus! Uma biscate de rua, que ainda é a atriz mais feia do filme! 200 paus... a essa hora?!! Ah, tem mais é que morrer mesmo!!


Bem, é claro que não foi exatamente isto que eles disseram, mas acredite, este trecho é melhor que qualquer outro do filme inteiro.

Sebastien bebe o sangue da moça reativando sua centelha vampiresca e escrota. Isso lhe dá o direito de gritar como uma criatura das trevas pederasta no cio em gozo extremo - uma gravação sinistra de urro, que será usada por qualquer personagem vampiro no filme inteiro desde então.

Sebastien e Arianna em ação, última palavra em vampiros amedrontadores - atores da Escola Paraense de Teatro.

Depois disso, o príncipe das trevas vira político e faz altos discursos convencendo toda classe proletária vampiresca a abraçar à causa. Finalmente ele aceita seguir o seu destino de acabar com os humanos e já começa com uma medida extremamente radical e eficaz: Passa o filme inteiro se esfregando com umas putas nuas - porque alguém da produção achou que estas cenas trariam alguma sensualidade ao filme, porque todo filme de vampiro tem que ser sensual, ou porque encontraram atrizes que aceitaram 5 dólares para aparecerem nuas no filme...ou os três ao mesmo tempo.

Há ainda muito mais para ser falado, como o novo bando de caçadores de vampiros que Helsing decide recrutar. Depois de serem avisados de que enfrentarão nada mais nada menos que Vampiros – criaturas sanguinárias e imortais – partem para um treinamento super descontraído e sem tensão alguma: riem, fazem piadas e se aquecem como se fossem disputar uma partida de travinha com os outros moleques do bairro. Mas como eu disse, nada do que eu disser vai se comparar a assisti-lo.

O interessante neste filme é que quando alguém tenta ferir um outro, perfurações de estaca por exemplo, os atores têm o direito de se moverem em ângulos quaisquer de uma forma que encubra o objeto perfurante, não dando a mínima para o fato de você perceber que ele descansou a faca fora do bucho ou passou o espeto por debaixo do braço, quando na verdade nós deveríamos acreditar que ele foi trespassado. Ou seja, aquelas peças que você fazia na 5º quinta série na escola com seus amigos têm situações muito mais emocionantes e perigosas que em “Way of the Vampire”.

É preciso 20 segundos de filme, ou menos, para perceber a barca em que você acabou de entrar (isso porque o filme começa filmando umas árvores, e elas atuam bem) – o fato de ter comprado, locado ou emprestado o filme é indiferente. Daí em diante você tem duas opções: 1) Quebrar o dvd, o aparelho de dvd, a televisão e a casa toda para ter certeza de quem ninguém mais verá aquela cópia; 2) Arranjar uma cópia e usá-la em aulas da faculdade de cinema, ou ainda, para curar pessoas que têm medo de vampiros.

Equipamentos utilizados nas filmagens.

Uma canção, "Sleepy House" (Blind Melon)